quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Dieta sem Glúten


Atualmente a mídia tem falado muito sobre a DIETA SEM GLÚTEN. Virou moda entre os famosos como receita de emagrecimento e bem estar e por isso reportagens, entrevistas e cardápios especiais tem sido divulgadas. Muitas pessoas que visitam o site da ACELBRA-RJ não são celíacas, mas buscam aqui informações que possam ajudá-las a entender o que é exatamente essa dieta e porque tantas pessoas estão a tirar o glúten de suas vidas.

Para tentar esclarecer um pouco, vamos resumir aqui de uma forma didática e simples, o que estamos presenciando.

O glúten é uma proteína presente no trigo, cevada, centeio e por contaminação cruzada, na aveia (o plantio e beneficiamento da aveia no Brasil são feitos nos mesmos locais em que o trigo e por isso ocorre a contaminação). Numa dieta isenta de glúten esses cereais e seus derivados são substituidos. Assim os pães, massas, bolos, tortas, pozzas, salgados e doces são feitos com farinha de arroz, fécula de batata, polvilho doce ou azedo, maisena, fubá, farinha de grão de bico, etc. Quem faz uma dieta sem glúten precisa se adaptar a novos cardápios e sabores.

A Dieta sem Glúten vem sendo recomendada como única forma de tratamento para a Doença Celíaca desde a década de 1950. Mas como a doença até pouco tempo atrás era considerada rara, pouco se falava dessa dieta e do seu tratamento.

Nos quadros de alergia ao trigo/glúten, também se recomenda uma dieta sem glúten. Uma das diferenças entre esse tipo de alergia (mediada por IgE) e a doença celíaca é que, no caso da alergia existem medicamentos e vacinas para minimizar os sintomas ou dessensibilizar a pessoa das reações ao alimento alergênico. Na doença celíaca ainda não existe cura para essa reação auto-imune ao glúten e o único tratamento é uma dieta rigorosa isenta de glúten por toda a vida.

Hoje sabemos, através de estudos de pesquisadores americanos, australianos e europeus, que muitas pessoas tem problemas com o trigo e o glúten, além dos alérgicos e celíacos. A SENSIBILIDADE AO GLÚTEN representa uma gama de situações, abrangendo desde as pessoas com leve intolerância a essa proteína até os quadros graves de alergia alimentar e os de doença celíaca (para saber um pouco mais sobre a Sensibilidade ao Glúten leia a pesquisa do Dr Alessio Fasano - USA - http://www.biomedcentral.com/1741-7015/9/23 e visite os sites: http://www.theglutensyndrome.net/ e http://gluten-intolerance-symptoms.com/ ). Hoje já se fala em 20% da população ter sensibilidade ao glúten.

No Brasil, profissionais de saúde ligados à Terapia Ortomolecular (dieta do tipo sanguíneo) e à Nutrição Funcional (dieta hipoalergênica) vem recomendando uma dieta sem glúten a seus pacientes, independente de serem celíacos (leia o texto da Dra Noadia Lobão: Alerta para dieta sem glúten ). Também temos visto o uso da dieta sem glúten no autismo (transtorno global do desenvolvimento - leia o blog: Receitas sem glúten e sem caseína da Claudia Marcelino).

Assim, são muitas pessoas a retirarem essa proteína de sua alimentação cotidiana. Isso tem feito crescer a oferta de produtos sem glúten no mercado e também aumentar o nível de informação da população sobre o assunto. Mas ainda estamos longe da realidade encontrada em outros países, onde em todos os estabelecimentos que comercializam alimentos, encontramos opções sem glúten nas prateleiras, balcões e cardápios.

Além da pouco oferta de produtos sem glúten no mercado brasileiro e do alto custo financeiro da dieta, o grande problema enfrentado pelo celíaco cotidianamente é a questão da contaminação cruzada por glúten nos alimentos. O que é isso ? São traços de glúten encontrados no ambiente, nos vasilhames, fornos e ingredientes que contaminam os alimentos sem glúten e podem fazer muito mal ao celíaco. Quantidades minúsculas de glúten são suficientes para fazer o sistema auto-imune reagir e provacar um quadro de inflamação no intestino delgado do celíaco, além do risco da permeabilidade intestinal e da passagem para a corrente sanguínea de partículas mal digeridas de alimentos que podem causar mais doenças.

A lei federal 10.674/2003 determina o uso das expressãoes "Contém Glúten" e "Não contém glúten", conforme o caso, no rótulo dos alimentos brasileiros. Se na lista de ingredientes constar trigo, aveia, cevada, centeio ou seus derivados, no rótulo do produto tem que constar a inscrição "Contém glúten". A lei nasceu para proteger o cidadão celíaco, mas como até hoje a ANVISA não a regulamentou, o que está acontecendo é estarrecedor. Algumas empresas, inclusive as grandes multinacionais, tem optado por usar a expressão "Contém Glúten" em seus produtos de forma generalizada, mesmo naqueles que não tem esse ingrediente, pois como há riscos de contaminação cruzada por glúten, elas preferiram excluir o consumidor celíaco de sua lista de clientes a fazer adequações para produzir de forma segura produtos sem glúten. Nem fazer testes laboratoriais para verificar se realmente acontece a contaminação elas tem interesse. O curioso é ver que na Europa esses mesmos produtos não contém glúten.

Por outro lado estão as empresas que reconhecem que pode haver contaminação cruzada por glúten em seus produtos, mas além de não se interessarem em fazer testes laboratoriais, continuam usando a expressão "Não contém glúten", pois estão atendendo ao texto da lei (na lista de ingredientes não consta glúten e por isso podem usar essa expressão). Ao celíaco resta comprar e descobrir se aquele alimento é seguro ou não, se vai alimentá-lo ou envenená-lo. A lei foi criada para proteger, mas se tornou inócua frente à omissão da ANVISA em regulamentá-la e ao desinteresse da Indústria Alimentícia em atender ao consumidor celíaco, salvo belíssimas excessões. A inscrição "Não contém glúten" deixa de ser uma segurança para o celíaco, obrigando-o a desconfiar de cada produto novo que encontra.

Com o aumento da procura por produtos sem glúten por um público mais diversificado (não só celíacos), já estamos vendo alguns empresários interessados em investir na fabricação desse tipo de alimento, mas que não serão recomendados para celíacos, pois serão produzidos dentro de um ambiente e em máquinas que manipulam glúten! O objetivo é atingir aos que tem sensibilidade ao glúten sem serem celíacos, pois estes podem suportar a presença de traços de glúten sem que isso represente riscos à sua saúde. Os celíacos estão se tornando excluídos dentro da sua própria zona de proteção, que são os produtos sem glúten !

Isis Valverde, atriz e celíaca, declarou em uma entrevista à Globo News que se sente um "esquilo", pois precisa estocar alimentos em casa, pela dificuldade em encontrar produtos sem glúten. Agora vamos encontrar os produtos, mas não vamos poder comê-los ...

A Constituição Federal nos garante o Direito à Alimentação, mas ainda temos um longo caminho a percorrer até que esse direito seja realmente respeitado.

Fonte: Rio sem Glúten